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A mediação e diálogo diante da descriminalização da maconha

Autor(es): Mara Denise Santos Alves

Laura Monteiro Araújo Lima

Katiusca Pereira Pires Belchior

Izabela Braga da Silva Melo

Gabriel de Lima Aurelio Lima

Cristiane da Mota Silva

Célia Lima Negrão

Abimael de Jesus Barros

Situação: Aprovado AP

Data de Início: 09/08/2024

Data de Fim: 22/11/2024

Curso(s):

Coordenador(es): Adalberto Aleixo

Professor(es) Articulador(es): Paulo Gustavo Barbosa Caldas

Atividade(s) Extensionista(s): Projeto

Instituição Parceira/Conveniada: ABRACE, PCDF

Registros:

Descrição

O propósito central do projeto é analisar a liberação da maconha como uma questão de política pública, destacando a problemática da criminalização e suas consequências sociais, econômicas e de saúde. A relevância desse tema se dá pela necessidade de compreender como a proibição impacta a sociedade, gerando violência, superlotação do sistema prisional e estigmatização de usuários.

A abordagem proposta envolve a aplicação de métodos adequados de solução de conflitos, como a mediação e o diálogo comunitário, para promover uma discussão ampla e inclusiva sobre a legalização e regulação da maconha. Isso busca fomentar um entendimento mais profundo das diferentes perspectivas envolvidas, buscando soluções que priorizem a saúde pública, a redução de danos e a justiça social.”

 

Link do questionário no Google Forms: https://forms.gle/TR9afjruLjgW4NKg7

Fundamentação teórica

A revisão de literatura sobre a liberação da maconha abrange diversas áreas, incluindo políticas de drogas, saúde pública, direitos humanos e práticas de resolução de conflitos. Abaixo, estão alguns autores e teorias relevantes:

  1. Ethan Nadelmann – Em suas obras, Nadelmann discute a necessidade de reformar as políticas de drogas, argumentando que a proibição gera mais problemas do que soluções. Ele enfatiza a importância de uma abordagem baseada em evidências e direitos humanos.
  2. Harry Anslinger – Embora contrário à liberação, seu trabalho é importante para entender a construção histórica da criminalização da maconha e suas implicações sociais. Sua perspectiva ajuda a contextualizar a evolução das políticas antidrogas.
  3. Beckett e Sasson (2004) – No estudo “The Politics of Crime and Punishment”, os autores analisam a interseção entre crime, punição e políticas públicas, abordando como a criminalização da maconha impacta comunidades marginalizadas.
  4. Teoria da Redução de Danos – Autores como G. Alan Marlatt defendem que políticas de redução de danos são mais eficazes do que a criminalização, propondo um enfoque que prioriza a saúde e segurança dos usuários.
  5. Mediadores de Conflitos – A prática de mediação, conforme proposta por autores como Christopher Moore, oferece métodos para resolver conflitos de maneira colaborativa, promovendo o diálogo entre diferentes partes interessadas na discussão sobre a maconha.
  6. Teoria do ConflitoLewis Coser e outros teóricos abordam como os conflitos podem ser canais de mudança social. Essa teoria é fundamental para entender como a luta pela legalização da maconha pode ser vista como uma oportunidade de reavaliar normas sociais.
  7. Estudos de Caso – Pesquisas em países que legalizaram a maconha, como o Uruguai e o Canadá, fornecem evidências empíricas sobre os efeitos da legalização e as práticas de regulação, contribuindo para um debate informado sobre as melhores práticas.

Esses autores e teorias sustentam a discussão sobre a liberação da maconha e a importância de métodos adequados de solução de conflitos, ressaltando a necessidade de um debate inclusivo e baseado em evidências para lidar com essa temática complexa.

O Canabidiol e as normas estabelecidas pela Anvisa

O controle da ANVISA sobre o canabidiol (CBD) é um assunto de grande importância no Brasil, particularmente para pacientes que procuram terapias alternativas e terapêuticas. A ANVISA tem definido normas claras para a comercialização, produção, cultivo e prescrição de produtos derivados de CBD, com o objetivo de assegurar a segurança e efetividade desses produtos.

O canabidiol (CBD) já foi extensivamente pesquisado e demonstrou possuir uma gama de vantagens para a saúde humana e animal. Ele tem características anti-inflamatórias, anticonvulsivantes, tranquilizantes, antipsicóticos, neuroprotetoras, analgésicas e anti tumorais. Essas vantagens são resultado da interação direta do CBD com o sistema endocanabinoide, um sistema neuromodulador que afeta o sistema nervoso central e o equilíbrio dos processos fisiológicos no organismo humano.

O CBD atua sobre receptores tanto no interior quanto no exterior do sistema endocanabinoide, em particular os receptores CB1 e CB2, modulando alostericamente esses alvos moleculares. Esta interação contribui para o controle da dor, redução da inflamação e aprimoramento de diversas funções fisiológicas.

No Brasil, a legislação relativa ao canabidiol (CBD) é intrincada e abrange a comercialização, produção, cultivo e prescrição desses produtos, como estudaremos a seguir:

Venda:

A ANVISA está avançando na liberação da venda do CBD, possibilitando o acesso a medicamentos que contêm CBD e, em certas circunstâncias, THC. A RDC nº 03 eliminou o CBD da relação de substâncias proibidas, inserindo-o na lista C1 de medicamentos controlados. Em seguida, a RDC Nº 327 definiu normas para a venda de produtos de cannabis com propósitos medicinais, simplificando a comercialização de medicamentos que contêm canabidiol como componente.

Fabricação:

A ANVISA definiu normas detalhadas para a produção de medicamentos à base de CBD por meio da RDC Nº 327/2019, assegurando que os fármacos cumpram os critérios de qualidade e segurança requeridos para uso terapêutico.

 Cultivo:

A proibição do plantio de cannabis no Brasil representa um dos maiores obstáculos a serem superados. A ANVISA ainda não permitiu o plantio em território brasileiro, restringindo a produção de insumos. O Projeto de Lei 399/15, atualmente em discussão na Câmara dos Deputados, sugere a possibilidade de cultivo para uso medicinal, desde que seja comprovada a efetividade terapêutica. O cultivo ainda é um tema em discussão, e a sua permissão poderia representar um progresso na regulamentação da cannabis medicinal no Brasil. 

Prescrição:

A ANVISA está aprimorando a regulamentação sobre quem pode receitar produtos derivados da cannabis no Brasil. Desde que o canabidiol (CBD) foi removido da lista de substâncias proibidas, ele começou a ser incorporado nas prescrições médicas. No entanto, a disponibilidade de medicamentos derivados de CBD no mercado brasileiro ainda é restrita e relativamente recente. A lei vigente é restrita, e existe oposição de certos segmentos da sociedade e da comunidade médica, o que complica o acesso a esses tratamentos. Indivíduos com enfermidades sérias ou progressivas encontram dificuldades para conseguir receitas médicas para esses medicamentos.

  De acordo com a Resolução nº 2.113/14, o Conselho Federal de Medicina regulamentou o uso compassivo do canabidiol para crianças e adolescentes com Epilepsias refratárias aos tratamentos convencionais. Dessa forma, algumas organizações e pesquisadores têm explorado o potencial terapêutico do CBD para aliviar sintomas e melhorar a qualidade de vida de pacientes com câncer, incluindo crianças.

  De acordo com pesquisas científicas, a permissão para o cultivo de cannabis no Brasil poderia representar um avanço importante na regulamentação da cannabis medicinal, ampliando a disponibilidade de insumos cruciais para a fabricação de medicamentos. A legislação atual proporcionou progressos significativos, tais como a ampliação da acessibilidade dos produtos, a diminuição dos períodos de espera e a asseguração da qualidade dos medicamentos disponíveis. No entanto, é fundamental identificar os obstáculos ainda existentes, que necessitam ser vencidos para garantir que todos os pacientes tenham acesso a tratamentos eficientes e de excelente qualidade.

Ademais, diversos municípios e estados promulgaram leis que regulam o acesso sem custos à cannabis medicinal através do Sistema Único de Saúde. Por exemplo, no estado de São Paulo, o Decreto nº 68.233/23, que regulamenta o acesso gratuito à cannabis através do SUS, para as enfermidades dispostas no referido Decreto.

 

Benefícios canabidiol

O canabidiol (CBD) já foi amplamente estudado e provou ter uma variedade de benefícios à saúde humana e animal. Ele possui propriedades anti-inflamatórias, anticonvulsivantes, ansiolíticas, antipsicóticas, neuroprotetoras, analgésicas e anti tumorais. Esses benefícios vêm da interação direta do CBD com o sistema endocanabinoide, que é um sistema neuromodulador que influencia o sistema nervoso central e o equilíbrio dos processos fisiológicos no corpo humano.

  O CBD interage com receptores dentro e fora do sistema endocanabinoide, especialmente os receptores CB1 e CB2, modulando alostericamente esses alvos moleculares. Essa interação ajuda a controlar a dor, diminuir a inflamação e otimizar várias funções fisiológicas.

Conforme matéria publicada em 08/04/2021, no blog Dr. Cannabis, O CBD (canabidiol) pode auxiliar no tratamento das seguintes doenças: Alzheimer, Câncer, Autismo, Epilepsia, Esclerose Múltipla, Dor crônica, Doença de Parkinson, Ansiedade, dentre outras.

Referências:

Cannabis & saúde. Cannabis Regulamentação: Tudo sobre as autorizações da Anvisa. Publicado em 16 de abril de 2021. Disponível em: https://www.cannabisesaude.com.br/cannabis-regulamentacao/. Acesso em: 06 Mai. 2024.

 

CFM. CFM regulamenta o uso compassivo do canabidiol para crianças e adolescentes com epilepsias refratárias aos tratamentos convencionais. Disponível em: https://portal.cfm.org.br/canabidiol/. Acesso em 08 Nov. 2024.

 

CFM. Exposição de motivos da resolução CFM nº 2.113/2014. Disponível em: https://portal.cfm.org.br/canabidiol/motivos.php?form=MG0AV3. Acesso em 08 Nov. 2024.

 

  1. CANNABIS. Doenças tratadas com Canabidiol. Publicada em 04 de abril de 2021. Disponível em: https://blog.drcannabis.com.br/doencas-tratadas-com-canabidiol/?form=MG0AV3. Acesso em 06 Mai. 2024.

 

MANO, Claudia de Lucca. Perspectivas e desafios para a cannabis medicinal. Conjur. Publicada em 11 de fevereiro de 2024. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2024-fev-11/perspectivas-e-desafios-para-a-cannabis-medicinal-em-2024/. Acesso em 08 Nov. 2024.

Visto Sistemas. Canabidiol e a legislação da Anvisa: Conheça a regulamentação. Publicado em 19 de julho de 2024. Disponível em: https://vistosistemas.com.br/canabidiol-e-anvisa/. Acesso em 06 Nov. 2024.

Cronograma

 

AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO NOVEMBRO
Dia 09/08 

Introdução, programa, avaliação UNIDADE 1 – Introdução e evolução histórica dos métodos consensuais de solução de conflitos.

Dia 06/09  

Questionário 1 sobre métodos adequados de solução de conflitos 

Dia 11/10

Apresentação dos projetos, com cronogramas e documentos produzidos.

Dia 01/11 

Produção relatório final

Dia 16/08

Divisão dos grupos. Definição dos produtos (1º e 2º bimestre) Início dos projetos.

Dia 13/09 

Apresentar um quadro comparativo, em formato de planilha e com texto explicativo, entre os manuais 

Dia 18/10 

Reunião para elaboração Questionário 2

Dia 8/11 

Entrega dos projetos finais

27/09 

Semana de avaliação

Dia 31/10 

Visita na ABRACE

Relatório final

Os projetos de extensão têm como objetivo aproximar as universidades da sociedade, aplicando o que é aprendido na prática. Estas extensões proporcionam aos estudantes uma experiência prática e enriquecedora, complementando sua formação acadêmica com aprendizados que vão além das salas de aula e dos laboratórios. Para a comunidade, a extensão universitária representa uma fonte valiosa de recursos, expertise e inovação.  O projeto proposto tem como objetivo promover métodos adequados para a resolução de conflitos, abordando temas como a descriminalização da maconha. Busca conscientizar a sociedade sobre a importância do diálogo e do respeito aos direitos alheios em discussões sobre questões complexas.

A atividade extensionista com base na visita a Abrace, Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer e Hemopatias, evidenciou o impacto positivo dos seus diversos projetos sociais, dedicado a oferecer apoio integral às famílias de crianças e adolescentes com câncer e doenças hematológicas. Além do apoio ao tratamento médico no Hospital da Criança, eles proporcionam assistência social, alimentação, medicamentos, transporte, passeios, atividades lúdicas, assistência odontológica e apoio logístico domiciliar.

Tivemos uma experiência enriquecedora ao conhecer mais de perto uma das melhores ONG’s do DF, acrescentando bastante em nosso entendimento prático e humano sobre o impacto do Direito na vida das pessoas. Tal oportunidade nos direcionou ao prisma do uso do CBD em tratamento medicinal, como a sua utilização em tratamento de Câncer, com a finalidade de ajudar a aliviar sintomas como náuseas e vômitos causados pela quimioterapia; No entanto, é importante destacar que o uso de CBD deve ser sempre supervisionado por profissionais de saúde e que a Abrace não ter uma posição oficial específica sobre o uso de canabidiol.

O grupo elaborou e aplicou um questionário sobre a descriminalização da maconha, como parte da atividade extensionista, que revelou uma diversidade de opiniões e perspectivas sobre o tema.  As respostas mostram que a maioria dos participantes, 74,7%, prefere a manutenção da criminalização, 25,3% demonstrou interesse na descriminalização ao conhecer seus possíveis impactos em áreas como saúde, economia e profissões.

A opção por um questionário distribuído via WhatsApp e em redes sociais foi escolhida por sua capacidade de alcançar um público amplo, oferecendo informações acessíveis e práticas sobre a descriminalização da maconha. O processo, mesmo realizado online, favoreceu uma reflexão crítica entre os participantes, ajudando a ampliar a compreensão sobre as complexidades que envolvem o tema e a reduzir estigmas e preconceitos.

A pesquisa obteve a participação de 186 pessoas, cujas respostas oferecem uma visão sobre os diferentes pontos de vista, expectativas e preocupações em torno da descriminalização. Essa amostra contribui para analisar o impacto social, econômico e de saúde pública associado ao tema, promovendo uma reflexão mais ampla sobre os possíveis caminhos e desafios dessa medida.

A descriminalização da maconha é um tema complexo, que envolve diferentes pontos de vista e exige um diálogo aberto entre sociedade, sistema de justiça,saúde pública e segurança pública . A disciplina de Métodos Adequados de Solução de Conflitos ensina ferramentas como mediação e conciliação, que permitem discutir temas complexos, como a descriminalização da maconha, de maneira neutra e construtiva. Esses métodos ajudam a ouvir e respeitar diferentes pontos de vista, diminuindo conflitos e favorecendo decisões mais informadas e equilibradas. Com isso, a disciplina contribui para uma visão mais cuidadosa e voltada para o bem-estar social e o respeito aos diversos interesses envolvidos, de uma forma que foge dos tabus envolvendo uma visão acadêmica a respeito do tema.

O  resultado esperado nessa pesquisa é a conscientização da sociedade sobre a descriminalização da maconha, com foco nos impactos positivos e negativos dessa medida. Através do questionário aplicado de forma virtual, busca-se promover uma reflexão crítica e informar a comunidade sobre o tema. Além disso, espera-se que o questionário contribua para que a sociedade compreenda a importância do uso da maconha em tratamentos terapêuticos, incentivando um debate mais informado e equilibrado sobre a questão.

De acordo com as respostas colhidas, foi possível notar que os resultados apontam uma sociedade majoritariamente conservadora e cética quanto aos benefícios de uma possível legalização da maconha no Brasil para fins recreativos.Embora haja um consenso favorável ao uso medicinal, a resistência ainda é significativa em relação ao uso recreativo e ao potencial impacto positivo na economia e no controle estatal. Muitos participantes manifestam uma desconfiança quanto à capacidade do Estado em regular o mercado, combater o tráfico e proporcionar segurança aos usuários.

Concluímos  que os dados desta pesquisa sugerem que, apesar de uma tendência favorável ao uso medicinal, o Brasil ainda enfrenta desafios consideráveis para aceitação da legalização da maconha em sua totalidade. A predominância de uma visão cética sobre a atuação do Estado, indica que seria necessário um trabalho mais profundo de conscientização e diálogo para avançar nesse tema,fazendo com que as informações cheguem de maneira mais clara e acessível à população.

 

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